segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Aceitar a auto- aceitação.



Aceitar a auto- aceitação.


Parar e olhar o chão da vida em que caminhamos. Como é construída a nossa estrada ? Grama, ladrilhos, areia? Uma estrada larga, com ou sem murros, cercas ?

O que nos tornamos durante a jornada, mesmo com as infinitas possibilidades de ser nesta vida?

Temos e teremos sempre horizontes vastos!

Onde estamos e como estamos é justamente o que podemos no melhor de nós ser neste exato momento.

Onde e como  estávamos durante a cada momento de nossa vida e com todos os nossos esforços, foi simplesmente o melhor para cada exato momento.

Exercer uma aceitação, não implica somente em aceitar o próximo com seus limites e possibilidades, porem é exercer também consigo mesmo uma aceitação, uma auto- aceitação.

A auto- aceitação não é comodismo, mas sim  uma gentileza que temos com nós mesmos de sorrir dizendo com todo o respeito um sim aos nossos limites.

Auto - aceitação nada mais é que uma valorização em forma de presente que damos a nós mesmos. É gostar, apreciar nossas próprias opiniões, atitudes, forças e fraquezas, independente do ambiente que estamos ou da atividade que estamos a  fazer.

Aceitar ou auto- aceitar é um sentimento genuíno de apreço pela alheia ou própria singularidade que cada um de nós temos neste mundo vasto de universos ou universos vastos de mundos. Vasto de seres singulares, recheados de crenças e formas de possibilidades.

Cada um traz a possibilidade de exercer a fidelidade em estar e permanecer consigo mesmo. Sentir em você mesmo a sensação de estar em casa, cuidar de sí mesmo e refletir para o mundo da forma mais autêntica, a cada instante de existência, atitudes com cheiros e cores  do que somos, do que podemos ser e o valor do que simplesmente neste momento estamos sendo.


Por Cristiane Kunert.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Outono no Parque Sanssouci- Potsdam- Alemanha.




Final de semana para visitar a família em Berlim e Potsdam. 

Agradável tarde de outono para uma longa caminhada, intensivas conversas e Cafés no Parque Sanssouci- Potsdam.


Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.

Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.

Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.

Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.

Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.

Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.

Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.

Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.
Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.

Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.

Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.

Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.

Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.

Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.
Parque Sanssouci- Fotografia por Cristiane Kunert.


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O mantra Maha Mrityunjaya cantado por Dalai Lama.





O mantra Maha Mrityunjaya- "Por um amigo doente", foi cantado pelo Dalai Lama e gravado com um gravador de fita simples. Hoje a gravação deste mantra antigo Maha Mrityunjaya (mantra que é encontrado também no livro dos Hinos "Rig Veda", o documento mais antigo da literatura hindu), existe em CD ou até mesmo no YouTube. Com a permissão do Dalai Lama, esta gravação foi feita por um de seus alunos. A princípio, ele recusou, depois ele concordou, mas disse que o mantra nunca deve ser vendido, mas deve ser dado- passado de graça. 


Mantra Maha Mrityunjaya :

OM! Tryambakam Yajaamahe Sugandhim Pushtee vardhanam
Urva Ruka meva Bandhanaat
Mrityor Muksheeya Ma amrutaat



A vibração deste mantra é conhecido em criar um ambiente de poder de cura eterna e de poderes naturais de auto-cura. Fortalece a vontade, o conhecimento e a ação. Ao mesmo tempo é livre, cheio de fluxos de entusiasmos, coragem e determinação.
 
Este é um mantra protetor contra acidentes, infortúnios e calamidades diárias. Um mantra que ajuda no desprendimento dos sofrimentos físicos, mentais, emocionais e dos medos. Este mantra nos conecta com nosso médico interior e nos ajuda também a absorver todo o conteúdo nutricional dos alimentos, ervas ou qualquer outra disciplina para melhorar o nosso bem-estar.



Por Cristiane Kunert 


 
Mantra Maha Mrityunjaya
 Cantado por Dalai Lama.


Ainda no Tema:


" QUAL É O SIGNIFICADO DO MANTRA "MRITYUNJAYA"

OM - O início de cada mantra. Palavra que traz a energia do mantra à manifestação.

TRYAMBAKAM - A palavra TRYAMBAKAM, Refere-se aos Três olhos do Senhor Shiva. “TRY” é o mesmo que “Três” e “AMBAKAM” quer dizer “olhos”.

Alguns pronunciam esta palavra como TRAYAMBAKAM, e o significado é o mesmo, "TRAYA" quer dizer "triplo".

Estes três olhos ou fontes de iluminação, são representados pela Trimurti de Brahma, Vishnu e Shiva e “AMBA” também tem uma referencia à Mãe ou Shakti e "KAM" que refere-se ao Bom e Correto.

Shakti é a Mãe divina manifestada, mas é também representada pelas consortes de Brahma, Vishnu e Shiva; que são: Saraswati, Lakshmi e Parvati.

Assim, quando pronunciamos, as palavras: OM TRYAMBAKAM, nós estamos manifestando a Presença de Deus, como Onisciente (Brahma), Onipresente (Vishnu) e Onipotente (Shiva).

O termo “Três olhos” significa a mais pura e profunda consciência do universo que impregna e transcende o tempo no presente, no passado e no futuro.

YAJAMAHE : é uma oferta, sacrifício, adoração, veneração. Adorando com Alegria. Nós oferecemos nosso sacrifício com alegria. Alguns traduzem para: “Cantamos em sua honra”.

SUGANDHIM : é um doce perfume/ uma fragrância agradável. Uma referência à alegria que temos de conhecer, enxergar e sentir a Poderosa Presença do Senhor Shiva, que nos envolve com a fragrância de Seu perfume. Quando o nosso terceiro olho desperta, tudo torna-se perfumado, porque tudo passa a ser visto como sagrado.

PUSHTI : é o mesmo que nutrir; o suporte a tudo o que existe; a prosperidade.

VARDHANAM : Aumento, incremento, fortalecimento. O aumento da prosperidade, do auxilio divino, da saúde e do bem estar.

URVARUKAM : Um tipo de pepino, que no passado da Índia, era conhecido como fruto de uma trepadeira. Esta trepadeira emaranhava-se em outras plantas, unindo-se a elas e tornando-se um obstáculo para o crescimento do pepino, que sofria para libertar-se e cair.
“IVA” : assim como. desta forma.

BANDANAAM : impotente e sem forças, preso no cativeiro.

MRITYOR : da morte, das doenças e dos obstáculos.

MUKSHIYA : uma armadilha.

MAAMRITAAT : livra-nos da morte, dê-nos a vida eterna. Este mantra começa por invocarmos a TRYAMBAKAM.

Ao falarmos esta palavra, estamos chamando a atenção de Shiva sobre nós. Mais do que isto, estamos reconhecendo em Shiva, seu poder de manifestação da totalidade divina.

Shiva é a vontade de Brahman manifestada. Ao dizermos OM TRYAMBAKAM, estamos invocando a capacidade de enxergar através de nosso terceiro olho.

OM TRYAMBAKAM OM TRYAMBAKAM OM TRYAMBAKAM

Quando dizemos YAJAMAHE, Estamos confirmando que vivemos para Deus e para Sua causa. SUGANDHIM, é um reconhecimento de que Deus está no meio de nós. Esta é a afirmação que autorizamos em nosso livre arbítrio, a Vontade divina atuando em nossas vidas. PUSHTI VARDHANAM, é um reconhecimento de que Deus pode nos dar prosperidade e auxilio, saúde e bem estar. URVA RUKAMIVA, são palavras que representam a doença e os obstáculos na vida. Estas são as palavras chave do mantra. Falando-as, nós estamos reconhecendo o poder dos obstáculos e das doenças, bem como a nossa situação de encarnados e limitados pela matéria. Assim como o pepino sofre para se libertar, nós também lutamos para nos libertarmos dos ciclos de reencarnação na matéria. URVA RUKAMIVA, quando dita junto de BANDHANAT, significa : “sem forcas devido a uma forte doença ou obstáculos”. Esta parte refere-se às barreiras do mundo astral que nos envolvem. Na Terra, estamos todos envoltos pelo plano astral e isto é um problema sério em nossas vidas e precisamos de ajuda espiritual (Tryambakam - visão da realidade) para sairmos da lama astral. MRITYOR MUKSHIYA MAAMRITAAT, ao dizermos isto, estamos confirmando que precisamos da interseção divina. Precisamos da ajuda do Senhor Shiva, para nos livrar da morte, das doenças e dos obstáculos da vida astral. Esta parte do mantra, também se refere à morte física e prematura, como aos ciclos de reencarnação, objetivando alcançarmos o Nirvana ou emancipação final do re-nascimento na matéria “Senhor Shiva, liberte-nos das amarras da morte e da ignorância”.

Este mantra mostra que estamos realmente interessados em atingir a glória da vida eterna, ao lado de Deus. Queremos realizar o que é imortal; o que está por detrás de tudo.

As Escrituras comentam que a repetição constante deste antigo Mantra Upanishadico, purifica o coração e desperta a percepção ou terceiro olho, nos conduzindo a um nível de entendimento mais profundo.

De modo simultâneo, a reflexão neste Mantra também auxilia a despertar nossas faculdades intuitivas latentes. Este Mantra é especialmente recomendado para afastar os sofrimentos em caso de doenças físicas ou emocionais "
- Fonte: www.curaeascensao.com.br
 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Era e é uma vez... A fascinação dos Contos de Fadas.




Estes dias andando pela cidade de Nüremberg, encontrei uma coleção de CDs de Contos de Fadas. Esta coleção apresenta em cada CD os mais conhecidos clássicos contos de diferentes países. Nossa, fiquei encantada!

Não pensei muito e comprei para dar de presente a nossa sobrinha de 11 anos de idade.

Eu realmente tenho uma fascinação por contos, em especial por Chapeuzinho Vermelho e a Alice no país das Maravilhas.






Os Contos de fadas contêm para mim uma grande sabedoria meia que escondida, que podem impressionar profundamente as crianças, por estas não terem um acesso a uma visão de mundo cientifico e técnico dos adultos. E todos estes processos técnicos, físicos e fenômenos naturais serão explicados nos Contos de Fadas por poderes mágicos de um simples " Simsalabim ".





Os contos de Fadas falam, traduzem de forma mágica sobre uma vida interior de cada um de nós, que não são tão bem revelados no nosso dia a dia, permanecendo muitas vezes no nosso inconsciente.

Histórias contadas desde uma princesa muito bem prendada até um lobo que quer devorar tudo. Porem o bem sempre vence o mal.

Os Contos falam de uma vida de sonhos, porem contadas sobre realidades humanas, cheias de experiencias entre luzes e sombras, escondidas nas leituras entre letras, palavras, linhas e simbologias que fascinam não somente as crianças, como também os adultos.

Os Contos de Fadas personificam as forças humanas que podem existir em cada um de nós, tanto para bem, quanto para o mal. Mostram também  possíveis soluções para situações de conflitos. Servem como espelhos de nossas experiencias mais interiores, mesmo que sejam cheias de emoções de possíveis medos, desejos, invejas ou solidão.

Quando também ainda crianças, os Contos de Fadas ajudam e facilitam a distinguir a escolha entre o bem e o mal, mesmo que a mente as vezes ainda não capte o significado simbólico dos personagens.



Os contos de Fadas muitas vezes aparecem, são contados em um cenário com atitudes ou escolhas dos personagens, muitas vezes em uma forma cruel, assustadora, ou até mesmo perfeccionista de um mundo perfeito cor de rosa, com bolinhas de sabão.

Estas realidades criadas nos contos de fadas, sendo crueis ou perfeccionistas, ajudam a criar reajustes, confrontos, balanças de valores sociais- pessoais e escolhas de atitudes na vida real do leitor, mesmo sendo ainda criança. Um reajuste de uma realidade de Contos de Fadas e a Vida Real.


Não podemos esquecer que mesmo em passagens crueis da leitura,  as crianças não estão sozinhas neste momento, porque as imagens de fantasias associadas ao medo, ainda surgem na mente das crianças em uma ambiente mais seguro, justamente na  presença da leitura em voz alta dos pais, pessoas associadas ao amor e confiança, fortalecendo assim também mais estes vínculos.

Os Contos de Fadas tem a magia, mesmo que de forma inconsciente, de acreditar e buscar sempre uma saída, uma vitória e ter a esperança de melhoras em quase todas as situações em nossa vida. Buscando sempre um final feliz e a uma moral da história.


Por Cristiane Kunert.


Ainda no Tema:

Uma análise dos contos de fadas: dos clássicos aos contemporâneos


Autor: Rachel Martins | rmartins@redegazeta.com.br
Fonte: Gazeta Online   

Professor-doutor da USP, José Nicolau Gregorin Filho, fala sobre a origem dos contos de fadas e rumo que essas histórias estão tomando nos dias atuais

José Nicolau Gregorim Filho, professor-doutor da USP 
José Nicolau Gregorin Filho é Doutor em Letras pela UNESP-Araraquara. É docente da Área de Literatura Infantil/Juvenil do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH/USP, São Paulo. Além disso, é Docente e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas e Língua Portuguesa da FFLCH/USP e Assessor Técnico de Gabinete da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP. Tem vários artigos e capítulos de livros publicados no Brasil e no exterior sobre o tema, além de dois livros: “Literatura Infantil: Múltiplas Linguagens e Formação de Leitores” e “Literatura Juvenil: Adolescência, Cultura e Formação de Leitores”.

– Partindo-se do princípio que os contos de fadas tradicionais eram transmitidos oralmente, quando supostamente foram concebidos, e revelavam o modo de vida daquela época, podemos dizer que sempre houve uma releitura dessas histórias?
Muito bacana essa observação, pois esse fato é verdadeiro. Quando os irmãos Grimm coletaram essas histórias, provavelmente elas já tinham versões diferentes das originais. A comunicação entre os grupos sociais na época não era tão eficiente, eles viviam praticamente isolados uns dos outros. Pense nas distâncias! E, claro, a partir do que era contado aos Grimm, eles também fizeram suas modificações. Então, todas essas histórias, mesmo as versões que pensamos ser mais próximas do original, chegaram até nós como uma “colcha de retalhos”.

– Podemos dizer que as primeiras releituras dos contos de fadas foram feitas por Charles Perrault e os irmãos Grimm? Eles podem ser considerados os “autores” dos tradicionais contos de fadas que conhecemos até hoje?

Claro! Mas vamos pensar que aqueles que fizeram o trabalho de coleta desses contos, até porque eram linguistas, foram os irmãos Grimm. Importante lembrar que quando falamos de “contos de fada”, falamos de uma criação cultural, social e anônima, assim como os contos maravilhosos. Não se sabe a origem, a não ser que eles surgiram da cultura. 
- A expansão dos contos de fadas se deu no momento da descoberta da palavra impressa, quando essas histórias passaram a ser conhecidas no mundo todo?

Antes da palavra impressa, os europeus já viajavam para suas conquistas. Antes do período das grandes navegações essas histórias se espalharam pelo mundo. Veja que os contos de fada têm origem com os celtas, isso já implica uma divulgação para toda a Europa. Os contos maravilhosos têm origem no oriente, veja que temos mais divulgação aí! Quando os colonizadores chegaram às novas terras, espalharam essas histórias pela oralidade. Claro que, com a imprensa, a divulgação foi expandida. Mas veja o quanto essas histórias viajaram oralmente, é bonito isso, não é?

– Dizem que na verdade esses contos de fadas foram feitos para os adultos, com significados até referentes à sexualidade. É verdade?

A verdade é que na época em que surgiram essas histórias não existia a infância como conhecemos hoje, existiam crianças e isso é outra coisa. Infância é uma concepção cultural, que se consolidou principalmente com a família burguesa no século XIX. Então, essas histórias têm origem nos mitos, numa época em que o saber não era compartilhado como hoje, ou seja, os mitos falavam da origem do mundo, dos problemas da existência humana, da morte, dos perigos, de tudo! Eles eram tratados científicos, jurídicos, entre outros, e sintetizavam o conhecimento humano. Com a consolidação da família burguesa, surge a concepção da infância, isto é, um momento do amadurecimento humano em que se precisa de cuidado, de escola... Então, foram retirados assuntos como sexo, morte, violência! (veja que a infância em menos de um século já mudou!). Claro que todas as questões estão presentes nos contos, pois se passavam conhecimentos de geração a geração. Veja que, depois, surgiu outra concepção cultural: a adolescência.

– A partir de que momento foi feito uma releitura - e por que - e eles passaram a encantar as crianças?

Exatamente pelo que expliquei antes. Dado ao seu teor “pedagógico” e de “fantasia”. Para atender essa nova concepção cultural, a infância, eles foram adaptados por já trazerem essas características tão aceitas e apreciadas desde a “infância” da humanidade.

– Quais os significados mais expressivos que esses contos de fadas tradicionais trazem embutidos? O que a criança consegue captar é bem diferente do adulto?

Para responder a essa questão, devemos pensar que cada leitor, seja ele criança ou adulto, quando em contato com um texto literário vai apreender significados diferentes, não é? Costumo dizer que lemos o que queremos e precisamos para nós mesmos, não o que está escrito. Claro que depende do narrador que se instaura no texto, de quais são os pontos que se destacam e daquilo que queremos mostrar, depende da versão que utilizamos e outras artes como o teatro e o cinema, que tem feito isso muito bem, veja os sucessos dos últimos tempos!
– Foi a partir do momento que passaram a fazer parte do universo infantil que surgiu a velha "moral da história" que todos eles trazem? Qual o objetivo disso na época?

Sempre que lemos um texto, buscamos seu sentido, o que ele quer nos dizer? Fazemos isso com a arte de um modo geral, fazemos isso com as pessoas, suas roupas... Estamos sempre perguntando, o que isso quer dizer? Claro que naquela época ancestral, acredito que eles queriam dizer: Como sobreviver a isso? Como ultrapassar essa floresta escura? Quais os perigos que existem do lado da minha aldeia? O que é bom para mim e para os outros? Que formas a maldade pode assumir? Veja que as questões não mudaram tanto, não é?
– Podemos afirmar que esses contos de fadas tradicionais se universalizaram com as produções dos estúdios Disney? Qual foi a releitura das histórias contadas por Disney em relação às de Perrault, irmãos Grimm, e outros?

Ah, veja que antes disso a coisa já havia tomado proporções gigantescas! Mas a Disney fez lá as suas versões como convinha, adocicando tudo com sus princesas loiras e seus castelos de sonho e, infelizmente, o que o mundo assimilou foi isso! É importante lembrar que numa das primeiras versões de Cinderela ela vai a uma missa, não a um baile, por isso ela precisava estar bem arrumada, pois a nobreza ficava próxima do altar, enquanto que os mais pobres ficavam longe, senão fora das igrejas. Por isso o nome Cinderela, vem de cinzas. Como ela iria falar com o príncipe? Isso se tornou uma história de amor, mas eu, assim como outros estudiosos que fizeram parte da minha formação, concordam que é uma questão de ascensão social. Há boas publicações que trazem esses contos mais próximos dos supostos originais.
– Na sua visão, com a chegada dos contos de fadas no cinema, eles se popularizaram muito mais?

Acredito que sim, depende de toda uma estrutura para isso: família, escola, etc. Mas o texto não deve terminar na sala de cinema, o assunto deve continuar e motivar as pessoas a buscarem outras versões, a conversarem sobre literatura, a buscarem as fontes desses filmes.

– Os contos de fadas da Disney eram maniqueístas? Mostravam de forma bem clara quem fazia parte do bem e quem fazia parte do mal, portanto, quem deveríamos amar, e quem deveríamos odiar?

Claro que são maniqueístas e tratavam assim o bem e o mal. Verifique que, em várias histórias, os “bonzinhos” são os bonitos, os loiros de olhos azuis, e assim por diante! Veja que as bruxas sempre eram colocadas como mulheres velhas e feias! Acho que isso está mudando com as novas versões para o cinema. Nelas, atrizes que correspondem ao padrão de beleza exposto na mídia são as bruxas.

– Me parece que nas releituras contemporâneas os papéis de muitos personagens têm se invertido. Agora, muitas vezes, o vilão é mais amado que o mocinho? O que está acontecendo na sociedade que está abrindo as portas para essa nova maneira de expor os tradicionais contos de fadas?

Bem observado! A sociedade está realmente mudando! Isso é a inversão social e as crianças estão no meio disso! Lembra o que eu falei de infância anteriormente? Com essa sua observação, parece que a infância mudou e que aqueles temas que contribuíram para a criação dessa concepção são assuntos que fazem parte de sua realidade. Veja como os contos estão presentes na sociedade e vão se modificando, assim como a própria sociedade...

– Essas mudanças são uma forma de humanizar mais esses personagens? Quer dizer, a madrasta não é tão má? Afinal, todos podemos ser bons e ruins, dependendo da situação?

Esse é o lado bom dessas transformações e elas acontecem em razão de a sociedade de hoje ter uma moral mais relativa. Essas histórias, hoje, mostram que todos podem ter várias facetas no seu caráter e que as aparências podem enganar (para usar um lugar-comum!). Isso só acontece pelo vínculo que essas histórias têm com a sociedade, com o imaginário, – aqui chamo de imaginário o arquivo cultural das sociedades. Se não estivessem tão presentes no imaginário será que elas poderiam ser resgatadas com tanta facilidade?

– Nos contos de fadas tradicionais o papel do homem dominante, e da mulher dominada, ficava claro. Hoje, as mulheres são mais independentes e não estão mais à espera do príncipe encantado. Mas mesmo assim ainda aparecem nas novas versões dependendo dos homens para fazê-las felizes. Quer dizer que nem tudo é modificado?

Será? Observe que os contos de fadas nos dizem de questões subjetivas, interiores. A mulher está mais independente no que diz respeito ao trabalho, mas veja que o homem está mais frágil com a presença dessa nova mulher. Será que se não vivêssemos ainda parte desse universo as redes sociais estavam tão repletas de “princesas” e “príncipes”? Isso é complicado e às vezes observamos o mundo com os olhos de alguém que vive em grandes centros cosmopolitas. Há vários mundos, interiores e exteriores. Isso que você falou também é estereótipo, veja a publicidade! Ela ainda trabalha com esses mitos, com algumas alterações.

– Apesar das mudanças, é fácil identificar nas releituras contemporâneas a que conto de fadas essa nova história pertence?

Claro! Inclusive quando há “misturas” de histórias. Vou pegar um exemplo muito fácil que não é nem de conto de fadas, mas ilustra bem! A versão da Disney de “Alice no País das Maravilhas” traz elementos da obra do mesmo nome e de outra – “ As aventuras de Alice através do espelho”. Ambas de Carroll. Mas é importante pensar que todos os textos dialogam na sociedade, todos guardam relações entre si. O que importa é levar às crianças uma quantidade de textos para que elas façam essas associações. Isso é um leitor competente!

– Quais são os novos significados que a sociedade quer passar para as crianças e jovens com essas releituras contemporâneas, onde, por exemplo, Chapeuzinho Vermelho tem uma filha com o Lobo Mal, ou um ogro é o herói da história?

Honestamente não sei! Há uma necessidade do “politicamente correto” e de subversões aos textos para atender ao mercado. Não sei mesmo! Veja que existem até teses sobre o tema de Chapeuzinho Vermelho e sua relação com o comportamento da mulher na sociedade, seus medos, etc. Há versões que não divulgo porque acredito que não tragam vantagens nem literárias nem comportamentais.

– Por que mesmo nessas releituras as metamorfoses, a magia, a fantasia, o sobrenatural, ainda sobrevivem?

Isso sempre vai sobreviver, principalmente em tempos difíceis. Então, acho que agora mais do que nunca! (risos).

– Essas releituras contemporâneas podem jogar para escanteio as versões clássicas?
Como eu já mencionei, depende de quem oferece e divulga essas novas versões à sociedade e em última análise às crianças. Prefiro acreditar que elas instigam a procurar a origem, fazem ler mais... Trabalho para isso, inclusive.

- Qual a importância dos contos de fadas na infância para a formação do indivíduo, partindo do princípio que eles sempre trazem uma mensagem por trás, tanto os tradicionais, como os contemporâneos?

Antes de tudo, a leitura sempre é fundamental para a formação do individuo. Dizer que a literatura não ensina, que se deve apenas buscar o entretenimento pelo entretenimento, isso não existe! Mas sobre os contos de fada, especificamente, talvez a sua importância seja trabalhar com temas tão complexos de maneira a fazer a fantasia e o maravilhoso se sobreporem, chamarem a atenção. Eles sempre falarão de problemas humanos, sempre!

- Hoje, com as crianças e jovens cada vez mais virtuais, você acha que ler os contos de fadas no computador, nos smartphones e nos tablets, muitas, inclusive, são animadas, acarreta na perda de qualidade. Ou o que vale é ler, não importa o veículo?

Sobre essa questão da leitura em outros suportes, não acho que atrapalhe. A criança está em contato com esses aparelhos e mídias, não há como fugir. O problema é que os adultos, daí eu coloco mais os pais do que os professores, devem sempre incentivá-las a buscar também outras leituras, em outros suportes. Há adaptações muito legais online, como, por exemplo, a história de "Chapeuzinho Vermelho" no site da Ângela Lago. Apesar de ser supercriativo e legal, ele incentiva a criança a buscar a história tradicional. Se pensarmos a fundo, hoje até a leitura virtual é uma mistura de todas as formas que a humanidade utilizou para esse fim. Há aspectos do “rolo”, que você desenrola o texto no tablet. Ou as páginas mesmo - essa não seria uma evolução dos tabletes da Biblioteca da Babilônia? Acho que é legal ser plural, plural nos suportes de leitura e plural nos textos, só assim seremos leitores plurais.
  
  • Entrevista original neste Site. 
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